09/10/2009

Ansioso pela calma

Eu queria poder explicar a minha ansiedade de chegar no final de semana logo e ir surfar.

Não me importa mais nem se vai ter onda desde que eu fique lá com a prancha. Saio do mar novo! Demora um tempo pra ligar de novo coisas como dinheiro, obrigações no trabalho, trânsito, horário, etc. Não que meu cérebro "frite", é uma questão de que esses valores são substituídos por ter responsabilidade como minha remada, a postura do meu corpo sobre a prancha, o foco da mente no mar...

E durante a semana, aquela ansiedade. Acordo mexendo o pé como se estivesse "droppando" ou até remando. Várias coisas se comparam a diferentes marés e minhas remadas... Ah, o homem e o mar. Não é a toa que tem tantos livros filosóficos sobre isso, não é mesmo.

Mas o que eu queria era guardar esse texto abaixo, que ilustra os momentos finais da minha ansiedade, o caminho em si serra abaixo...

"Vai, meu irmão! Acelera essa porra. Acelera cara, quero chegar lá com a maré enchendo.

1976, mais uma vez vai o Opalão despencando pela serra do Mar, em busca do grande oceano, da água salgada, do prazer do surf.

Um som arretado, pranchas na capota, THC.

Chegamos à Baixada Santista. Longa planície com cheiro do mangue e um indigesto posto de polícia rodoviária, que normalmente manda parar os carros com prancha na capota. Mas de alguma maneira hoje não nos pararam, nos ignoraram.

Eles não gostam da gente.

Nós não gostamos deles.

Atravessar a cidade de Santos sempre é prazeroso. As construções antigas, as ruas arborizadas, palmeiras imperiais e a turma arrastando a sandália com calma e soberania.

Na ponta da praia uma pequena fila da balsa.

Muito legal descer do carro, se esticar e debruçar no guarda-corpo sobre o canal de Santos, ver os barcos ancorados, coloridos, com cheiro de maresia. Os cardumes de peixinhos alinhados, lindo. Relaxo profundamente e viajo na furta-cor de uma mancha de óleo, que boiando muda de maneira aleatória da cor azul para o roxo, verde, vermelho, psicodélico.

Já estamos na balsa, a 5 min do Guarujá. O vento na cara é bom. Vejo as águas invadindo o mangue, confirmando a maré enchente.

Mais alguns quilômetros e chegaremos ao nosso destino, Sítio São Pedro, na praia Branca.

Paramos na generosa sombra de uma enorme amendoeira. Começa um momento mágico. Despir roupa, pensamentos e atitudes impregnados de agitação e da competição da cidade, da estrada, da facu, da família, do mundo, e trocar tudo por uma bermuda, uma sensualíssima prancha e uma parafina cheirosa. Cheiro de alegria, cheiro de liberdade.

Já falei tantas vezes e repetirei tantas outras: Surf e sexo são as melhores coisas que conheci nesta minha humilde existência."

- Carlos Motta, Surfista à 40 anos e Arquiteto premiado internacionalmente, Revista Trip 181.

17/08/2009

Filtro da visão paulistana

Uma semana esquiando.

Uma semana tentando reconhecer numa montanha quilométrica os diferentes tons de neve para mandar a prancha na neve melhor e esquivar da ruizinha que vai me dar um belo de um capote.

São detalhes pequenos que acabam gerando centenas de tons de branco.

Minha razão até entende porque os esquimós tem tantas palavras para branco.

Branco gelo, branco grume fofo, branco grume duro, branco sujo, branco gelo de raspadinha, branco neve e gelo poeira de vento, branco nevasca, branco pisado, branco virgem, branco morrinho artilheiro, branco pedra escondida, branco poeira gostosa da neve, branco gelo nublado, branco neve cegante no sol, branco que sou o primeiro a passar por ele...

Enfim...

Você volta pra São Paulo com toda essa percepção fina, esse foco para cada detalhe, e toma um baque, uma porrada na vista que te dá até uma dorzinha de cabeça e vertigem. Sua visão não consegue mais focar em nada, tudo parece rápido, distorcido, exagerado, rico DEMAIS em detalhes.

Exemplo simples: mesa de bar, madeira envernizada, riscas na madeira com inscrições, nome de alguém escrito, chão quadriculado, de preto e branco, salto da garota passando, de vestido azul, com penteado chapinha, presilha de florzinha laranja, branca e amarela, com anel estilo tribal, com pedrinha azul encrustrada, com colar pequeno de pérolas, falsas, bijuteria, 3 voltas no pescoço, outro colar maior, mais sutil na visão, indo até a cintura, com espaçamento bem amplo entre as pérolas, com tatuagem no antebraço, de luazinhas e estrelinhas, com salto empinando a bunda, definida, de academia, diferente da amiga que já nasceu assim, e lá vai o garçom, com patrocínio da skoll na camisa, que está por cima de uma camiseta do corinthians, com a gravata borboleta escura, com a cerveja de um colarinho bem tirado, cremoso, na bandeja, olhando de rabo de olho a TV, do lado das garrafas de whisky, Jack, Walker e Reds, passando Fantástico....

É infernal o filtro visual de um paulistano!

Estamos sobrecarregados de informação visual e nem percebemos. Quando focamos um pouco em algo aparentemente tão neutro, que requer tanta atenção (como no caso da minha neve), percebemos o quão poderoso é esse filtro que não nos deixa enlouquecer no dia a dia.

Eu poderia escrever mais, mas é apenas excesso de informação sobre o que eu já disse.

Então apenas pense nisso.

15/07/2009

Mensagem para o eu-futuro

Escrevo esse testemunho para meu eu-futuro para quando eu esquecer certas coisas que estão acontecendo comigo e que eu não deveria esquecer:

Minha trilha sonora é um chill-out que me acalma mas num estado meio-depressivo. Não é deprê em si, e algo mais pra um consciência realista do que sinto agora...

Estou terminando a dieta, caro eu-futuro. Sim, o sentimento de que fiz e posso fazer de novo existe, mas essa afirmação é simplista e perigosa.

Primeiro que desconfio do remédio ter sido a causa de tanta "pilha" de viajar para tantos lugares, fazer coisas como surfar, e trocar a noite pelo dia. Agora que estou sendo "desmamado", cada dia sem ele aumenta a ansiedade: mordo mais os dedos, mais coisas me irritam, meu zen aproxima-se de ansiedade e nervosismo, minha conquistada calma e auto-confiança se tornam exibicionistas, me pego dando palpites e tentando ser o dono da razão de novo.

Segundo, que NÃO foi fácil. Foi muito exercício, vergonha, e os tapinhas nas costas só vieram na reta final. Até lá, a academia era solidão. Pessoas olhavam de canto de olho, apostando em silêncio quando o gordinho ia desistir. No começo não houve progresso, só frustação de dietas que não iam pra frente. Muitas baterias de exames e médicos pra me tirar do efeito sanfona semanal.

Finalmente, tem o objetivo em si: uma vez atingido, é muito obvia e estranha a reação das pessoas. Pessoas que não se importavam passaram a se importar. Elas querem opnião sobre outras coisas que não tem haver com a dieta. Outras, particularmente alguns bons amigos gordinhos que conheci nesse caminho perderam a confiança. Se sentem tímidos ou algo assim. Sim, o sentimento imediato é de estar rodeado de falsidade e de ter me vendido.

No espelho, não reconheço a mim mesmo.

Acreditar é difícil, e eu estou me machucando por causa disso. Como assim 6 dias de exercício pesado por semana? Meus dentes racham em dor e sensibilidade de tanto que meu corpo está no limite. Meus nervos querem desmaiar, principalmente agora que eles vivem de uma quantidade tão exata de nutrientes, tão fácil de errar e deixá-los com nutrientes de menos. O remédio ainda me segura em pé ou está fazendo os nervos entrarem em parafuso? E o frio... meu deus, que medo desse frio...

De repente ando na rua e percebo mulheres olhando, se aprumando quando passo, no supermercado já vi até uma me interceptando repetidas vezes. O mundo é tanto sexo assim mesmo? Não, eu não acho isso legal. Significa que a personalidade realmente não serve pra nada. Estamos vendidos assim pro visual, pra aparência... somos tão carnais assim?

Pra mim, parece que somos porcos guinchando.

Mas sim, me sinto feliz. Mas também com medo. Cada vez que acho que ingeri algo errado na dieta tenho vontade de vomitar ou pelo menos cair de joelhos no chão e chorar alto. Tanta tristeza de como foi difícil, de como manter isso é uma responsabilidade, de como eu NÃO QUERO voltar a engordar. Não faço idéia do tipo de monstro que virei, mas você, eu-futuro, vai provavelmente ter essa resposta.

Mas tem o lado bom da responsabilidade. Quero comer certo, quero dormir adequadamente, quero me exercitar direito, e quero sentir meu novo corpo. Eu não lembro dele assim, e realmente, ele não é assim desde a adolescência. Mas os únicos jeitos que aprendi são a academia e o surf.

A academia, já estou enjoado, mas sempre muda um pouquinho pra manter. O surf é um achado. Estar sozinho com o mar, vendo ele impor sua força, tentando aprender a ser tão bom amigo da prancha quanto sou do meu carro pra curtirmos o imutável caminho que é a onda. Onda que é e sempre será em seus segundos de existência. A chance de sentir meu corpo armonizando com minha mente, com minha ferramenta, com meu caminho na natureza.

Pobre natureza, tão suja, coitadinha. Estar lá no meio e ver nossa sujeira me faz ficar bravo, me irrita imediatamente. A necessidade de armonizar com o mar para surfar direito (um dia, quando sair do estágio do aprendizado), me faz ficar bravo com o ser humano.

Essa é uma mudança boa, mas é um reflexo dessa sensação de querer descansar... a procura do estar sozinho, a fuga da possibilidade de ter virado um porco guinchando também, pelo menos por um segundo no controle da prancha...

Ano de crise. Dificulta tudo um pouco mais. E a crise vem se tornando paupável vagarosamente. Eu quero arriscar tudo, mudar várias coisas, e isso me deixa ainda mais ansioso. Estou no limite entre não acreditar mais no dinheiro, mas ao mesmo tempo, a falta dele começa a me deixar claro que não posso fazer várias coisas que são tão simples...

Mas a vida continua... apesar de tantas pessoas novas ao meu redor que desconfio por terem se aproximado do meu eu-presente (magro), e de tantos velhos amigos que acabei afastando.

Será mesmo?

Será que afastei os amigos? Eram mesmo amigos?

Será que as novas amizades são falsas? Ou são pessoas genuinamente interessadas em serem verdadeiras? Será que nas minhas atuais mudanças gerei aberturas? Com certeza me exponho bem mais agora...

E não se preocupem os amigos que estiverem lendo, pois sei muito bem que são próximos demais e não dúvido de vocês. Minhas considerações são apenas sobre algumas pessoas da academia, supermercado, lojas vizinhas... pessoas do dia-a-dia que não tenho vínculos reais.

Aos meus antigos amigos, continuo pedindo a mesma força apenas. Alguns são violentos, outros filosóficos, outros bebem comigo, outros deixam um scrap verdadeiro no Orkut, outros temos apenas saudades... mas a todos, convido pra virem comigo nos meus novos caminhos. O dia assusta, eu sei, mas é o medo da liberdade que você sente, um medo da felicidade...

Minhas costas doem de repente, eu queria escrever algo sobre as meninas que saí mas decido que é íntimo (desculpa). Meu olho arde de sono quando eu já devia estar na cama a MUITO tempo. Sinto a barriga pedir algo (só precisa de um gole de água). Costas cansadas (é excesso de exercício e a insistência em não dormir direito) se arqueando demais. O nariz aponta um resfriado... talvez.

Eu percebo que perdi o ponto. Vou revisar o texto e vou dormir.

11/06/2009

Entorpecido? Climax? Ou apenas dançando?

Meu mundo se mescla em tons e sons enevoados. Lembranças do barulho das ondas do mar juntam-se com luzes da cidade grande. Momentos da infância e da própria projeção da minha velhice. Sou real e sou o que eu apenas li ou sonhei. Meus sentidos são tomados e não sei mais se ainda respiro ou apenas irradio alegria.

Fala - pequenos sons, monossílabas, gemidos ou baques da minha falta de ar... ou frases inteiras desenfreadas em uma língua que não conheço, mas que soa de maneira tão óbvia. A mensagem da certeza do objetivo atingido. A língua dos espíritos.

Visão - me perco nas curvas e me livro da maldade. A realidade se quebra como um espelho. O espaço se inunda com luzes que formam uma estrada, um caminho em super-velocidade. Ladrilhos de ouro e luz pavimentam esse caminho. A velocidade é incrível, e com mais e mais pontos brilhantes estourando no horizonte, tão belos que não consigo fixar e entender.

Olfato e Paladar - perfumes, centenas, milhares... de flores e de humanos. Texturas que derretem na língua e me energizam, eletrificam, inspiram, induzem. Impossível de resistir sugo o aroma. Envenedado, só consigo me render, fechar o olho e sentir aquele gosto enquanto o cérebro apaga por um instante e aquele produto tão ao mesmo tempo alienígena e humano desliga os outros sentidos... intoxicado, enfeitiçado... tudo se confunde maravilhosamente.

Tato - no começo, toque com suavidade, calculado para induzir Depois, leveza que vai se convertendo em força, vigor, dedicação, união... dança. Por poucos segundos, o universo mostra sua natureza: o tempo e espaço se mostram estáticos, únicos, teorizado e agora percebidos como tal. Pela sua própria natureza é inconcebível aos sentidos, e minha frágil mente não pode conter esse sentimento explodindo em sobrecarga.

Audição - minha alucinação me traz zumbidos e zunidos em tons desconhecidos. Como uma corda de violão entro em pura ressonância. A duração do tom reverbera por cada molécula do meu corpo. Cada uma delas me agradece e ressoa de volta... e de repente silêncio e uma risadinha no fundo de quem aprontou tudo isso.

30 dias de (ins)piração musical - dia 6

POP ROCK - Happy Hour
música de inspiração: uma coisa meio jingada, acelerada a música, mas a letra cantada mais arrastada, descontraída e alegre, algo pop-chicletinho.

As luzes se apagam
As portas de fecham
O trabalho terminou
A noite chegou

Os coringas se mostram
Numa mesa de bar
Não há porque levantar
Mais uma dose, bora papear

Da mesa vejo o trânsito parado
Meu caminho pra casa, meu palco
E, eu como os carros, "travado" (haha.. ha!)
E me desfila uma secretária de salto

O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai

Pra que ir
Pra que sair
Tão bom aqui
Tão ruim ali

As idéias estão fluindo
Produtividade máxima
Chefes e peões construindo juntos
Planos de um mundo tão melhor

Idéias boas logo aparecem
E mais uma vez salvamos empresa
Ou assim parece, após tantas doses
Mais leve a mente, menos stress na cabeça

E de repente, a névoa se vai
Os carros somem, o caminho livre
Mas pra que ir pra casa agora?
'Bora procurar amor em saias e diversão

O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai

O papo esquenta, uns já mais alterados
Mesmo assim, ficam mais engraçados
Outros já olham a hora pois estão cansados
Já relaxaram, eu vou indo feliz embora

E povo vai se cumprimentando,
Com um sorriso se separando
Num celular um pedido de pão e leite
No outro mensagens de sacanagem pura

Adeus, meu amigo, que fiel volta pra sua esposa
Beijos, minha amiga, flertes amanhã nos corredores
Falou, meu brother, que corre atrasado pra faculdade
E pro grande maluco, que com seu fogo foge pra balada

O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai

He-he-hey

O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai
O papear, o papo vem, o papo vai

09/06/2009

30 dias de (ins)piração musical - dia 5

Uma coisa meio Bob Dylan, meio Woodstock se apossou de mim essa semana... é a proximidade do feriado, o fogo de sair por aí =oP Bom, mais inspiração que isso, impossível:

Dia 5 - Classic Rock - Liberdade

Sentir a brisa não custa nada
Nem papear com os amigos
Dormir na areia ouvindo o mar
Ou abraçar o meu amor

Seduzido
Engravatado
Enforcado
Um coitado

O seu trabalho,
Não vale a sua alma
O seu trabalho,
Não é a sua vida

Não confunda
Seu sustento
Com viver
A vida está aí, com ou sem voooocê...

De que adianta lutar
Lutas que não quero estar
Para comprar lixo que eu não preciso?

O que quero para ser feliz?
Quanta fortuna REALMENTE preciso?
Meu medo não é ter filho num "mundo selvagem"
Mas de que ele cresça sem que eu esteja ao seu lado

Vamos cantar
Celebrar o dia
Amar à noite
Conhecer o mundo
E me conhecer

Mire certo na felicidade
Pense direito na vida
Quero um bico de vez em quando
Pra andar por aí com meu amor

07/06/2009

30 dias de (ins)piração musical - dia 4

Bom, no dia do jogo, já devidamente inspirado por conversas e filmes de eras medievais, nada mais óbvio que um metalzinho épico, daqueles que reinaria a guitarra dando o clima. Confesso que faltou um refrão, mas na minha cabeça faltou o guitarrista também pra pegar o galope da música, hehe..

Metal - As Muralhas do Forte

[intro de guitarra lenta, sugerindo um navegação no mar e o fim de uma tempestade, o canto inicial é um sussuro medroso]

Depois de alguma chuva
O céu finalmente clareou
E do leme o capitão trovejou

Checamos a espada na bainha
Apertamos a fivela das botas
Com o sinal da cruz o padre reza
Para boa sorte ou extrema unção

E nossas ordens são claras
Um objetivo tão sinistro
Perder a vida num belo domingo

[música explode, simulando uma batalha, uma invasão]

Do alto do forte o inimigo nos espera
Catapultas e arcos mancham o céu
Erguemos os escudos sobre as cabeças
Alguns já gritam com as flechas no peito

Da praia nos aproximamos da mata
Das escorregadias pedras do morro
Sem tropas nos esperando, eles nos convidam
A gigantesca trilha do morro, que não conhecemos

O caminho escurece e se torna incerto
O que parece certo é uma armadilha
Não existe um caminho feito para se subir
Exceto aos céus com a bandeira do meu rei

Soldados nos cercam, sem gritos de guerra
Atrás de muretas onde não consigo subir
A piada mortal, minha espada não os alcança
Mas suas lanças e bestas ficam vermelhas de sangue

Gigantescos escombros nos esmagam como vermes
Toras e pedras nos atropelam nos caminhos sem saída
Já estamos divididos, sem rumo, sem chance
A tática é que nosso número resista, a tática é morte

Sobre o corpo de tantos companheiros
Ainda agonizando, membros decepados e esmagados
Muitos empurramos à frente, são escudos humanos

Finalmente na muralha do morro chegamos
O inimigo fecha os portões e derrama o óleo
Dos buracos-assassinos, pedras e água escaldante

Dessa altura do morro, até o vento combatemos
Não encontramos platôs, não há canto seguro
Lutamos cegamente, já não abatemos o inimigo

No morro, nossas máquinas de guerra não sobem
Mas catapultas do inimigo ainda afundam nossos reforços
Tanta morte, tanto sangue, tanto esforço em vão
Sem ter para onde recuar, escorregamos do precipício

Enfim cumprimos a nossa missão
Morremos numa tarde de domingo

06/06/2009

30 dias de (ins)piração musical - dia 3

Você achou que eu tinha falho, né? Na-na-ni-na-ni-na... é q eu sabia que a inspiração ia vir de madrugada, tipo assim no meio da balada... e veio bem punk, em um zilhão de flashes na base de vodka com suco de laranja (screwdriver) e transplantado em notinhas pra mim (ou pro meu eu sóbrio) no meu celular... entenda como algo assim bem "experimental"...

vou transcrever, mas entenda que é uma mistura de coisas que vi, que ouvi, que senti, que pensei assim na loucura da bebida... outras que saí andando pra ver as reações das pessoas, ou pra me sentir sozinho no meio da multidão... não é meu pensamento normal, e isso que achei legal... por isso, vou editar o mínimo possível (sim, eu fugi pro inglês, tentarei traduzir depois):

PUNK/GRUNGE - The Lost Colors of Every Weekend

Burn burn
Burn the images in your mind
Do it harder than you really feel
Durn harder, until it become aggression
Again

Fuckin LIBERATE it
...I'm fuckin tired...
IT just reaps out!
Violently!

Do you wanna know who cares?
Hahaha, fool,
You tought I was gonna say "nobody"
Well... no. I'm not a kid anymore

A drunk friend come up,
Honestly worried
You can trust friendship and booze
After all
At least for tonite

He wanted to fuck her
I try to cheer him up
But... suddenly...
I loose him of my mind
A girl, so close now, casually...
She smells so right...
Dances so nice...
I'm all animal again

[solo, passando animalismo, e de novo caos]

I awake from my last dreams
I'm lost again in the crowd
My day comes to my mind
My day crashes in my night
I'm all anger, it all mix up

Well... we took the shit lately
We gonna take it again
When will we NOT gonna take it anymore?
I fight so hard the feeling
Defeated by the man, enslaved
Nothing can release me
Alcohol, rock or hell
It is stronger than it all
A stronger curse

A friend say "Wassup?"
I just dismiss him
My toughts, my burden to face
Why do I fucking like this pain?
Shit richie upbringing? Spoiled?

And them, a fag friend got asked by a girl
She wanna dance with him...
Dirty dance
Nice dance
And a second girl join them
They are one body right now
Sex for those who don't fuck each other
And I'm the freak who "likes to watch"
The one who types in a mobile

All I can really focus now
More booze
I pay more booze for my friends
So they keep doing cool things near me

And Motorhead crashes a plane in my head
10.000 songs disconnects my brain
Jesus, I could marry the sound right now
Dances... girls are sex, boys are violence
I can't explain, they make me free
So I dance again
This is Vibe

[musica termina, fica lenta, como o fim da noite a da loucura]

And then, in a cold night
Still drunk
Way deaf
Lostly sad
A dead slave of the world
(I'll be an undead by monday)
I fell like an idiot again

But I never give up

So I end in a parking lot
Watching the sunshine
With wine, chocolatte and cheese

04/06/2009

30 dias de (ins)piração musical - dia 2

Dia 2 - Samba - Botinha no Frio
tema: algo entre garota de ipanema, penguim e gafieira.

Esse friozinho de Junho que me pega de repente
Congela os ossos, até assusta a gente
Tiro do armário a velha jaqueta e o cobertor
Mas passeando na rua é que acho meu calor

Botinha no frio
Botinha no frio *
Você me conduz

Botinha no frio
Botinha no frio *
Você me seduz

Suas longas pernas no jeans apertado
E a cinturinha esculpida pela blusinha
Reboladinha no andar apressado
Me faz tão bem, quero você seja minha

Cabelos soltos, penteados, e arrumados
Protege do frio essa "fada do inverno"
Que passa e deixa a todos enfeitiçados
É tanta classe que já desfila de óculos de sol

Ela aquece com sua beleza inocente
Tira o equilíbrio da gente
E faz meu sangue ferver

Botinha no frio
Gatinha com frio *
Você me conduz

Botinha no frio
Gatinha com frio *
Você me seduz

Suas longas pernas no jeans apertado
E a cinturinha esculpida pela blusinha
Reboladinha no andar apressado
Me faz tão bem, quero você seja minha

Ah, mas o frio não é nada
Aaaah, quando ela passa é que sinto
Aaah, ela finge que não existo
Me faz suspirar e sofrer

Seus passos me chamam
Vestida em puro mistério
É magia quente nesse frio ardente

Botinha no frio
Gatinha no cio *
Você me conduz

Botinha no frio
Gatinha no cio *
Você me seduz

Suas longas pernas no jeans apertado
E a cinturinha esculpida pela blusinha
Reboladinha no andar apressado
Me faz tão bem, quero você seja minha

[no final, o refrã já vai sendo cantado no corinho ao fundo, e o vocalista discursando no 1o plano]

Vou te contar... essa botinha é mais que um fetiche qualquer:

Se é salto alto, deixa as pernas mais longas, empina a bundinha, dá aquele ar de mulher quente...

Se é sem salto, dá um jeito meiguinho, uma coisa menina, uma inocência safadinha...

Ai ai....

Botinha no frio
Gatinha com frio *
Você me conduz

Botinha no frio
Gatinha no cio *
Você me seduz

Suas longas pernas no jeans apertado
E a cinturinha esculpida pela blusinha
Reboladinha no andar apressado
Me faz tão bem, quero você seja minha

03/06/2009

30 dias de (ins)piração musical - dia 1

Novo projeto: 30 dias tentando compor letras para músicas... Vamos botar a prova minha capacidade criativa vs. produtiva. No final eu edito tudo e dou TAGs equivalentes ao estilo musical (POP, Rock, etc). Vou botar como requisito também escrever em português.

Dia 1 - Mad Max Bukowski
som de fundo: biker rock, motorhead

O rugido do motor, eu venho maquinado
Caçando pra fuder, pra matar desgraçado
Lição pra você: não se meta no caminho
Vou beber seu sangue como vinho!

A estrada é apenas uma sugestão
Bem ou mal, eu escolho como quero tropeçar
Minha vida é força e opressão
Se eu não empurro, pra baixo vão me puxar

Eu cuspo no olho do demônio
Encaro deus com um dedo de aviso
Atropelo espíritos e seus favores à manada
Se a estrada é chata... atropelo na calçada!

Meu caminho quem faz sou eu
Passo sobre nobres e plebeus
A bosta que eu fiz eu como sozinho
Não tenho medo do céu nem do inferno

Chega das mentiras dos escrotos fascistas
Na tv, no templo, no planalto e na trepada
Dinheiro não é vida, nem modelinho das revistas
Não tente me fazer rezar para sua propaganda

Você não é fodástico por ter um iate
Você não é melhor por morar num barraco
Você não é gostoso por ser descolado
Sua "tribo" é só a marca do seu dono!

Agora, eu seguro a arma na sua testa, desgraçado
Hesito, tremo de ódio (não de crise nem de medo)
Bala sacana, não vai me tirar o prazer. É meu!
Jogo a arma longe, aos dentes dizemos adeus

Quer tomar bala de volta quem segura a arma
E eu só quero tentar fazer durar mais essa vida
Acabamos falidos, só traje de cerimônia após a corrida
Quem luta pela marca de um dono, só leva fudida

Consumo é marca, é sua coleira,
Liberdade é o caminho da perversão,
Método te transforma num escravo,
Crença é ferramenta da manipulação.

Se violência é rotina na guerra
E se na paz reina a futilidade
Então ninguém nunca acerta nem erra
Controle sua cabeça para achar verdades

O que o velho safado dirá de mim agora...
Vejo a arma no chão, tô com a costela ferrada
Eu sei... é eu sei o que ele dirá:
"FODA-SE ESSA MERDA!"

.... fim da música, barulho de senhores da alta roda conversando, apostando nos cavalinhos...

22/05/2009

Corrida na Serra

E então o mundo acelera MUITO rápido, só que percebo ele vindo pelo retrovisor. A adrenalina sobe e acelero junto. Primeira curva, testo o carro, jogo uma marcha, sinto a resposta do acelerador, e ele simplesmente responde com gosto, como apenas um carro que está com você a 10 anos pode responder, como que lembrando de tudo passaram juntos... e pedindo briga!

Você sorri de um jeito moleque e desafia o mundo: "IT´S ON, BITCH!!!"

Aniversário da família. 92 anos de força e resistência prometendo muitos mais. A cachorrada late, a família conversa de lembranças boas influenciada por uma cervejinha. Tudo culmina no fogo doido de uma canção de parábens milenar para uma senhora quase centenária!

O carro responde à primeira curva, o mundo desafia: "Bora lá?"

Fim do expediente, desce a serra, mas faz um caminho novo. Um amigo novo te mostra o mundo dele. A noite começa com os pensamentos que já me perseguem a tempos sobre "o meu lugar", sobre onde quero que um filho cresça, o que posso construir, o que é ilusão. Aaah, realidade, bela realidade! Linda pra quem sabe olhar. E azar de quem só sonha com as torres de marfim, porque a visão da minha janela é linda e simples.

Gente nova, balada muito diferente. Dança com passos certos: dois-pra-cá dois-pra-lá é muito diferente de um-um da techneira. Dança sem luzes piscantes que te escondem na multidão, só um salão grande com gente olhando, medindo, avaliando, jogando piscadas e cantadas à distância. Risadas e diversão. Dança de responsabilidade de mostrar sua imagem na frente de todos sob uma cadência precisa, matemática, mesmo que descontraída. Baah! Dane-se o motor 1.0 de quem não sabe dançar. Acelera, aprende rápido, segura na mão dela, dá risada dos seus erros e continua. É a identidade de quem tem coragem de testar o novo.

Nova adrenalina!

Da dança anônima para a dança com identidade.

O mundo pede gás, um metro de chopp, vinho, mais dança. Ela te agarra pela cintura e diz que te quer, te pegando desprevinido. Outras aparecem e falam coisas boas e ruins. Algumas boas sobre o lado ruim, outras ruins sobre o lado bom... você sabe... elas disparam a falar tão rápido como só elas sabem. Parece que você as conhece a vida toda. Tudo vai mais rápido, a janela agora é paisagem de borrão no meio da noite, curvas perigosas na deliciosa e atordoante velocidade. Faster than the speed of light, slower than the growth of a tree...

Neblina, segredos, experiências doidas.

E de repente, no meio da madrugada de uma quinta-feira, emergindo da neblina, depois de desviar de tantos caminhões sob curvas apertadas, o mundo dá um cavalo de pau logo na linha de chegada... sim, aquela placa de "FIM DO TRECHO DA SERRA"... logo minha vida volta com a outra placa avisando os horários do rodízio municipal. Apenas 4 horas pra dormir antes do meu começar, eu estacionar longe e chegar no trabalho com mochila nas costas e a pé.

Dançando pela Ibirapuera com meu fone de ouvido... dois-pra-lá dois-pra-cá...

Você olha pro mundo ficando ali no retrovisor, ainda desafiante. Mas nada pode te parar, é apenas um Pit Stop de trabalho e academia: "Me dá mais uma horinhas, mundo, e a gente racha de novo pra Maresias."

10/05/2009

Pelo direito de viver

Tem noite em que nada passa de um sonho, uma alucinação de verão (mesmo que quase no inverno).

Tem noite que tudo é alegria, que as saias das garotas são mais curtas, que a bebida subiu um pouco mais, que os amigos bradam cânticos distorcidos, desafinados mas muito alegres enquanto se abraçam e erguem cervejas em brindes malucos. Vikings em revelia!

Tem noite que você tomou uma cerveja a menos, apenas uma, e ficou sóbrio o suficiente para rir dessa visão com gosto, apreciar as saia curtas se levantado um pouco mais alto ao tentarem uma tacada ousada na mesa de bilhar, discutir filosofia com os outros sábios noturnos, cantar uma música romântica com um pouco mais de certeza para as gatinhas que passam por perto da sua mesa, sendo que depois de um tempo, algumas passam SÓ pra ouvir a musiquinha que você vai cantar especialmente pra elas (e claro, cada uma recebe uma diferente), nitidamente desviando do seu caminho natural para ganhar esse agrado...

Tudo é poesia, tudo é romance.

Amigos prometem planos de festas e viagens com o destino do "amor". Amigas riem maliciosamente sem entrar em detalhes. Desconhecidos da Índia te explicam sua cultura milenar. Seu amigo bêbado te abraça e confessa o quanto te ama. Desconhecidas jogam um sorriso escarlate após darem uma ajeitadinha no visual em frente do espelho.

Trombetas. Café num bar próximo apreciando o nascer do sol. Espetáculo divino enquanto debates "assuntos vitais" com os amigos.

Em casa, o sono dos justos!

06/05/2009

Minha Estrada

Peguei a estrada saindo de São Paulo, da capital de onde nasci e cresci, da efervescente capital onde seus habitantes são o próprio material consumido dia após dia. Sangue, suor e almas, mas sem lágrimas.

Assim que subi no primeiro avião (e foram muitos), aquela idéia surgiu nos meus sonhos mais negros... uma idéia sussurrada no meu ouvido várias vezes nos últimos estressantes anos.

Uma idéia de traição...

Pousei em Brasília, onde conheci os "candangos". Avenidas incríveis de altíssima velocidade, muita opulência, um museu gigantesco de prédios e construções imponentes para os deuses e anjos. Mansões e poder. Corrupção óbvia. Sujeira embaixo das unhas.

No seu underground achei paixões minhas como o Rock, festas no estilo Rave, mas tudo com uma pitada diferente do que eu conheço... uma mistura de mpb no meio do Rock, um techno samba... inspirador quando as mulheres dançando tem pernas tão maravilhosas e compridas quanto a maioria das candangas.

No grande museu, er... cidade da Gran Capital Brasilis, pensei pela primeira vez em sair de São Paulo, trocar o trânsito pela avenida acelerada, a vida paranóica violênta e apressada pelos jantares nos barzinhos espalhados em praças ou lagos. Mas algo estava errado ali...

Brasília não é "cidade".

Adorei o lugar e as pessoas, mas é artificial demais. Projetado demais. Estranho demais.

Na igreja mais exótica do mundo, me despedi de Deus mais uma vez e segui meu caminho: bêbado como eu e eles, ao som de uma boa rave pela noite, seguindo o Cruzeiro do Sul para Asa Norte.

"Mas e se São Paulo tivesse um trânsito fluido assim, se a noite tivesse mais guitarras com o sorriso brasileiro deles." - sussuro.

Mais uma vez levantei voo. Cheguei em Vitória, no Espírito Santo. Brinquei a vida toda que a capital do ES devia se chamar Empate, porque ninguém jamais ouve sobre eles, bem ou mal, mas tem um índice de qualidade de vida incrível. Como assim? Fui lá checar...

O povo lá é assim, sossegado, gozador, amigo. O lugar é lindo, acho que a cidade (as cidades, pois acabei descobrindo Vila Velha como a continuação óbvia) deveria estar no dicionário do lado da definição de lindo. Calmo, tranquilo, até a mulecada curte ir pra casa cedo do que varar a madrugada na balada. Acordam cedo para ir para as praias isoladas e paradisiacas ao norte e sul.

Povo calmo, aonde eu sentava, logo estava conversando com um capixaba. Gente tranquila, cheio de piadas quase inocentes. Rico ou pobre, sozinho ou em grupo, o capixaba te recebe bem. Lindas mulheres, lindas praças, lindo mar, lindos restaurantes, lindas marinas, lindas praias isoladas, e cidades esculpidas para serem agradáveis para seus moradores... lugar espetacular. Moqueca incrível. Chocolate maravilhoso. Tranquilidade inexplicável e contagiante.

"É aqui, se você quiser" - e acabo vendo imóveis nobres mas a preços dignos da periferia de São Paulo... sim, mais uma vez minha cidade voltava à minha mente e se comparava. Em sua grandeza, em sua força, em sua necessidade de acelerar e apertar um pouco mais pelo progresso. Paulistanos, filhos de emigrantes e imigrantes, seja Japão, Itália, Bahia, etc, etc, etc, somos filhos daqueles que vieram com objetivo de mudar de vida e crescer... São Paulo é assim também.

Mas se eu pudesse trazer aquelas praças com quadras de esporte e parques por todo o lugar para São Paulo, seguras, tranquilas, movimentadas o suficiente para sociabilizar, recompensas do dia árduo, que estão em todo lugar para todo o povo, por um povo que cuida um do outro, e não que se mata... mas como?

Mas numa igreja construída em 1535, no alto do morro com uma linda visão (Vitória), agradeci a Deus a oportunidade e fui-me embora mais uma vez, seguindo meu fiel Cruzeiro do Sul pelas estradas que levavam das lindas praias isoladas para o ponto de ôni... er, aeroporto de Vitória.

Finalmente, o avião chegou na cidade rival à minha megalópole querida: Rio de Janeiro.

E que visão... aliás, visões! Não consegui parar de deixar o queixo cair no Rio. Como pode uma cidade tão grande conversar com tanta natureza? São elfos esses cariocas? Como pode o mar ser tão grande? Como podem as pedras que fazem os morros serem tão majestosas? Como pode tanto concreto moderno crescer sem destroçar tanto verde? Como pode a praia calma e linda ser tão próxima da vida humana intensa, espinhuda, violenta e atarefada?

"Jesus," - eu perguntei, já que ele virou meu guia nessa cidade incrível lá do morro - "porque São Paulo não é assim? Natureza e concreto! Sua obra e a nossa juntas em harmonia! É perfeito!"

O trânsito uma hora me incomodou, mas virei e fui pra praia e pronto. Do Mirante do Leblon, vi a lua refletindo num mar interminável e virei um com o universo. No Arpoador, em Copacabana corri pelo calçadão com meu fone de ouvido, cruzando mulheres como as que se escondem nas academias em São Paulo, e vendo pescadores e mergulhadores se divertindo. Pra que tanto, no aeroporto já tinha visto uma regata de final de semana, e surfistas logo após a curva da garota de Ipanema.

Tanto para se fazer...

E na Lagoa, shows de fogos. Em Ipanema, cafés tranquilos com visão para as meninhas que desfilam pela calçada para entrar numa balada cheia de Paparazzis na porta (e policiais que vieram exibir seus fuzis enquanto olhavam para as pernas das mesmas meninas). Som para vários gostos misturado com um MPB malandro e safado. Mensagens sacanas de maneira romântica. Não sabe poesia pra jogar numa cantada? Ouça a música e ande na praia que cedo ou tarde você se solta.

E então você sobe no Morro dos Prazeres para chegar no Cristo. Almoço num restaurante alemão com um digno alemão bêbado, se hospedando com uma australiana, cruzando franceses, canadenses, gaúchos e paraíbas... e vê a visão do Cristo, com o Maracanã bombando em dia de clássico. Cidade Maravilhosa. Esplendorosa.

Chega, ela está me enganando. Estou na área dos turistas. Vou pra Barra, vou pra Praia do Pepê, Prainha, Grumari, Obricó, Jacarépagua, Pedra da Gávea, Flamengo, Botafogo, Jardim Botânico, passo pelos estádios do Pan que vão vir a sediar Olimpíadas e Copa... tudo incrível, sempre casando a natureza tranquila com a cidade populosa.

Não pode ser! A violência! Sim, a violência estraga tudo, certo? Não... não é. Cruzei várias favelas no caminho, mas não é assim, existe algo estranho...

O carioca incorporou sua violência (como nós, paulistanos, com a nossa). Ele consome com gosto a droga que o traficante vende. Torna o burguês mais malandro. O traficante mantém uma cidade em sua favela, como qualquer cidade que cresce ao redor de uma indústria. Torna o malandro mais burguês. E a polícia faz vista grossa (arregada e com medo de trocar tiro subindo o morro).

A paz reina nessa estranha harmonia. Balanço de forças que não parece possível coexistir.

Mas assim como pode terminar em tragédia se algum lado entrar em desequilíbrio, talvez como uma guerra de traficantes e suas balas perdidas, ou com socialites tacando ovo no povo em Copacabana provocando um arrastão, parece que a existência dessa harmonia é a prova de que todos lados querem viver numa boa e aceitariam um diálogo... talvez com um bom prefeito...

O Rio é lindo. Me curvo, calo a boca, e retiro o que disse no passado.

Mas não é uma cidade tão grande. Não o suficiente para poderem me fornecer uma solução. Sua balada fecha cedo demais para poderem ir à praia. Seu forró chama funk mas existe ali, naquele canto específico daquele morro. Ótimos shoppings, mas poucos. Sua vida de cidade grande tem um "quê" de caipira. Na seu espetacular jeito de viver buscando tranquilidade, fugiram demais de respirar de verdade a essência da "cidade". Digo adeus a seu Cristo, mas ainda não é isso...

Sozinho, volto à megalópole paulistana. De cima, percorrendo por vários minutos uma cidade interminável até o aeroporto, percebo o que embaixo costumo estar imerso demais para perceber: mar de prédios, modernos, vivos, ativos, impressionante!

Se ficar velho, derrubamos pra colocar um prádio maior e melhor. Se for favela, em poucos anos será um novo mar de prédios de altíssimo nível. As luzes vermelhas dos infinitos carros pulsam pelas suas intermináveis vias como sangue em suas veias. Força viva, atraindo mais trabalho, mais progresso, numa velocidade inversamente proporcional ao seu trânsito. Impressionante, infinita, impossível de ser parada ou copiada.

Insubstituível.

O sussuro se transforma em assobio.

Minha traição se transforma em contribuição. Fui espião atrás dos segredos dos outros. Fui achar novas coisas para trazer para minha megalópole querida, e não meios de fugir. Querendo achar algo novo, achei a mim mesmo, por pura comparação.

Agora, devo aumentar a natureza em nossa vida, aprender a curtir os frutos de nosso progresso, dar um tapinha nas costas de outro paulistano para que ele possa se soltar um pouco e aproveitar sua merecida recompensa, seu caminho bem trilhado, que ele já chegou, que ele já conseguiu, mas que sua velocidade incrível não o deixou perceber.

Gritemos "PARABÉNS, PAULISTANO!", vamos construir nossos mirantes em arranha-céus imponentes para que possamos ter visões majestosas dessa cidade incrível e curtir visitantes ficando bestificados com nossa beleza também. A maravilha que é a vontade humana de fazer, e que nós personificamos. Faz bem pro ego e nos dá mais força ainda, acredite. E então, vamos aprender a dar um tempo para descanso, a fazer reunião de negócios produtivos em barzinhos e cafés, gerar nossa música apressada que conta sobre essa vida com privilégios e problemas anos-luz do resto do Brasil.

E vou descobrir como ou morrer tentando. Nós somos o gigante por natureza do país.

E todos os paulistanos nesse momento me odeiam por perder tanto tempo com ataques ufanistas... mas só paulistanos podem compreender isso.

05/04/2009

Estátuas

Pela estrada da vida acelero. Por noites e manhãs vejo o mundo passando. Percebo reflexos de pessoas que conheci deslizando pelos cantos da minha visão, e quando olho de novo, aquelas pessoas não são mais o que lembro delas. São só reflexos, só lembro dos reflexos... só amo ou odeio os seus reflexos.

Me lembro de dias felizes, de pessoas radiantes que eu admirava e me inspirava... Acelero e me vejo igual a elas. Finalmente sou quem eles tanto me inspiravam... inércia me trás ao futuro, mas aquelas pessoas ainda estão no mesmo lugar.

Sou mais que isso agora? Elas se perderam? Elas estão presas em círculos viciosos? Não quero isso. Não quero que meus amigos queridos se vão sem sequer notar, mas quando converso com (alguns) outros amigos, percebo que eles veem o mesmo.

Perdemos alguns amigos pelo tempo, eles acamparam num ponto (besta) da estrada, eles param como se fosse o ponto final, como se não houvesse nada a mais... Mas eu vejo montanhas no horizonte, com novos mundos.

Acelero e os perco. Alguns aceleram também, e bebemos aos que ficaram. Quem nos inspirou ficou? É triste. Mas vejo novas pessoas a frente... mais complexas, mais inspiradoras, até mais... perigosas.

Para chegar nessa altura da estrada, apenas sendo mais complexo: enigmas - "Decifra-me ou te devoro" - e num relance lembro mais uma vez dos que ficaram...

Estátuas do passado, energias do futuro. Choro as que perdi. E não quero perder as novas...
Rezo para que eu não vire pedra ao olhar para a medusa da vida, que nada me hipnotize tanto para ficar preso a num momento específico da vida, malditas serpentes venenosas: vícios e rotinas, ilusões e megalomanias anacrônicas.

Acelero, só é aceitável acelerar mais. Adeus quem fica, terei sempre seus reflexos, estátuas pelos caminhos já conhecidos da minha estrada. Agora entendo que não é carreira, salário, filhos, aventuras ou mulheres: é o acúmulo de cada experiência dessas... e tantas outras... tantas...

Ficar vivo, mudar muito, questionar sempre, amar, odiar, se apegar, deixar ir, lugares e pessoas, músicas e danças... amores e inimigos... sempre mais um.

Como você chegou aqui? Como sua vida é assim? O que te consome? O que te alimenta? Me diz com seus olhos, me mostra com seu corpo, me leva com suas histórias... e me empurra se eu parar... ninguém ama mais os outros, apenas a si, eu sei, mas não me deixa... luta por mim... um pouco mais! Grita meu nome! Me desperta falando mais de você, seus segredos, suas paixões, seu tesão, me contamina de vida!

Lamento os que ficam... honro sua memória... tento aprender com seus erros e acertos, mas com esse combustível, eu acelero, gritando seu nome uma última vez. Senhor, não me deixe ficar sem gás gritando antes da próxima parada... me dá mais uma milha de entendimento, mais uma milha perto da compreensão, pois o enigma da vida me apaixona, e não quero parar... jamais...

02/04/2009

EMOs

Eu encontrei uma balada de emo.

Eu estou velho pra isso, mas eu não tenho dessa não. Fui lá e curti a balada. Agitei com a banda, dancei, bebi, conversei com a galera, conversei com amigos, tirei fotinho no celular... toda o ritual.
Na vida fui de muita tribo e nenhuma delas, mas duas das que me identifico com força são metaleiro e punk.

Fui ver Iron, voltei pra casa ouvindo Manowar, estava trabalhando com Alice in Chains, Blind Guardian, Slayers, Megadeath e Motorhead na orelha... Sex Pistols, Bad Religion, Ramones, Offspring me levantam pra dançar, pular, causar, etc de uma forma tão indescritível e inominável (usar nomes pra parecer importante e fingir que eu tenho um ponto se chama Name Dropping, crianças, e é feio)...

Mas ver a galerinha do Emo praticamente encostados na parede, sem gás, com cara de sono na própria balada deles foi triste.

Tipo, mesmo os gotickeras, todos deprês e sem esperança por definição, dançam, bebem, etc. Mas, pô, meu... se você vai no Madame (bom filme, odeio a balada, mas clássica e respeitável na paulistanice underground podreira), existe a energia dos caras.

Não que eu ache os gotickeras algo além de a "modinha" do dark. Musiquinha besta, com literatura já despencando de tão velha (Lenore se revira no túmulo), sem grandes demonstrações atuais... meu medo é que a geração nova deles seja emo.

Caraca, até clubbers o pessoal tem medo que os filhos cheguem perto pra não se perder em ecstasy e libertinagem total... do que eu deveria ter medo de emo???

Bom, poderia chutar mais os cachorrinhos mortos, mas a desciclopédia já faz isso demais.

Emos, mais energia! Vocês tão pagando de viadinhos vendidos por falta de demonstração de força! Façam que nós, os velhos, tenham medo de que nossos filhos se associem com vocês. Me faça ter medo de passar com o carro numa rua de balada emo. Curti sua energia, mas explodam ela!!! FORÇA!!!

Missão: Achar a verdade!

Que me venha a verdade.

Quem ela me enlouqueça ao me deixar ver sua cara proibida. Eu não me importo. Só assim eu vou entender a grande "realidade"!

Quero os políticos insandecidos aprovando leis que os favorecem na minha cara. Robando, mentindo, MATANDO!!! Ah, se eu pego...

Quero os milionários me usando como peão de obra, me manipulando, jogando migalhas com nome de "aumento" e "promoção" para eu me sentir tão especial e depois me jogando fora como lixo. Deixa os idiotas acharem que a vida é isso...

Quero conheceras capitais do Brasil e os países da América do Sul para me entender. Quero nadar na mesma lama que os Estados Unidos de Vegas, Disney, Nova York e Mc Donalds. Quero descobrir o começo de tudo nas pirâmides, zigurates, necropolis e templos orientais. Quero desafiar neve, deserto, mato, trânsito, sexo, mares e a mim mesmo correndo uma maratona... somos carne, gente! Estamos VIVOS! VIVOS!! VIVA MAIS, PORRA!!!

Quero beber vodka, tequila, saque, cerveja, vinho, absinto e aquela bebida louca que passou pegando fogo com trilha sonora própria! E quero dançar sob luzes atordoantes sob o efeito dessas bebidas... e depois numa roda punk, e batendo a cabeça numa no show de metal, e hipnotizado nas curvas da loira da rave, e agarrado na cintura da morena sob uma música que sumiu porque eu só penso na cintura...

Quero ler um livro com uma idéia tão louca que me desconecte do mundo. E um outro sobre física quântica que me faça entender o mundo em suas partículas mais ridículas. Quero saber que meu amor é uma descarga de seretonina, mas mesmo assim, estar apaixonado pra sempre por aquela mulher... mas só essa noite, nesse momento...

E quero sentir a música que nos cria e destrói. Cada som... cada harmonia que não sabemos explicar... cada vibração na minha pele... cada estrofe de protesto na minha mente... cada vez que a música me empurra para um caminho novo.

Quero ódio.

Quero prazer.

Quero tesão.

Quero amor.

Quero responsabilidade.

Quero pirar.

Quero deixar você puto(a) porque minhas idéias te machucam!

Quero que voê me idolatre como algo que não sou!

Somba e Luz, Yin e Yang, Homem e Mulher... a verdade não está em um lugar só, mas ela é uma só.

Deus me disse: "Desce lá e pergunta - QUALÉ, MANO??"