15/07/2009

Mensagem para o eu-futuro

Escrevo esse testemunho para meu eu-futuro para quando eu esquecer certas coisas que estão acontecendo comigo e que eu não deveria esquecer:

Minha trilha sonora é um chill-out que me acalma mas num estado meio-depressivo. Não é deprê em si, e algo mais pra um consciência realista do que sinto agora...

Estou terminando a dieta, caro eu-futuro. Sim, o sentimento de que fiz e posso fazer de novo existe, mas essa afirmação é simplista e perigosa.

Primeiro que desconfio do remédio ter sido a causa de tanta "pilha" de viajar para tantos lugares, fazer coisas como surfar, e trocar a noite pelo dia. Agora que estou sendo "desmamado", cada dia sem ele aumenta a ansiedade: mordo mais os dedos, mais coisas me irritam, meu zen aproxima-se de ansiedade e nervosismo, minha conquistada calma e auto-confiança se tornam exibicionistas, me pego dando palpites e tentando ser o dono da razão de novo.

Segundo, que NÃO foi fácil. Foi muito exercício, vergonha, e os tapinhas nas costas só vieram na reta final. Até lá, a academia era solidão. Pessoas olhavam de canto de olho, apostando em silêncio quando o gordinho ia desistir. No começo não houve progresso, só frustação de dietas que não iam pra frente. Muitas baterias de exames e médicos pra me tirar do efeito sanfona semanal.

Finalmente, tem o objetivo em si: uma vez atingido, é muito obvia e estranha a reação das pessoas. Pessoas que não se importavam passaram a se importar. Elas querem opnião sobre outras coisas que não tem haver com a dieta. Outras, particularmente alguns bons amigos gordinhos que conheci nesse caminho perderam a confiança. Se sentem tímidos ou algo assim. Sim, o sentimento imediato é de estar rodeado de falsidade e de ter me vendido.

No espelho, não reconheço a mim mesmo.

Acreditar é difícil, e eu estou me machucando por causa disso. Como assim 6 dias de exercício pesado por semana? Meus dentes racham em dor e sensibilidade de tanto que meu corpo está no limite. Meus nervos querem desmaiar, principalmente agora que eles vivem de uma quantidade tão exata de nutrientes, tão fácil de errar e deixá-los com nutrientes de menos. O remédio ainda me segura em pé ou está fazendo os nervos entrarem em parafuso? E o frio... meu deus, que medo desse frio...

De repente ando na rua e percebo mulheres olhando, se aprumando quando passo, no supermercado já vi até uma me interceptando repetidas vezes. O mundo é tanto sexo assim mesmo? Não, eu não acho isso legal. Significa que a personalidade realmente não serve pra nada. Estamos vendidos assim pro visual, pra aparência... somos tão carnais assim?

Pra mim, parece que somos porcos guinchando.

Mas sim, me sinto feliz. Mas também com medo. Cada vez que acho que ingeri algo errado na dieta tenho vontade de vomitar ou pelo menos cair de joelhos no chão e chorar alto. Tanta tristeza de como foi difícil, de como manter isso é uma responsabilidade, de como eu NÃO QUERO voltar a engordar. Não faço idéia do tipo de monstro que virei, mas você, eu-futuro, vai provavelmente ter essa resposta.

Mas tem o lado bom da responsabilidade. Quero comer certo, quero dormir adequadamente, quero me exercitar direito, e quero sentir meu novo corpo. Eu não lembro dele assim, e realmente, ele não é assim desde a adolescência. Mas os únicos jeitos que aprendi são a academia e o surf.

A academia, já estou enjoado, mas sempre muda um pouquinho pra manter. O surf é um achado. Estar sozinho com o mar, vendo ele impor sua força, tentando aprender a ser tão bom amigo da prancha quanto sou do meu carro pra curtirmos o imutável caminho que é a onda. Onda que é e sempre será em seus segundos de existência. A chance de sentir meu corpo armonizando com minha mente, com minha ferramenta, com meu caminho na natureza.

Pobre natureza, tão suja, coitadinha. Estar lá no meio e ver nossa sujeira me faz ficar bravo, me irrita imediatamente. A necessidade de armonizar com o mar para surfar direito (um dia, quando sair do estágio do aprendizado), me faz ficar bravo com o ser humano.

Essa é uma mudança boa, mas é um reflexo dessa sensação de querer descansar... a procura do estar sozinho, a fuga da possibilidade de ter virado um porco guinchando também, pelo menos por um segundo no controle da prancha...

Ano de crise. Dificulta tudo um pouco mais. E a crise vem se tornando paupável vagarosamente. Eu quero arriscar tudo, mudar várias coisas, e isso me deixa ainda mais ansioso. Estou no limite entre não acreditar mais no dinheiro, mas ao mesmo tempo, a falta dele começa a me deixar claro que não posso fazer várias coisas que são tão simples...

Mas a vida continua... apesar de tantas pessoas novas ao meu redor que desconfio por terem se aproximado do meu eu-presente (magro), e de tantos velhos amigos que acabei afastando.

Será mesmo?

Será que afastei os amigos? Eram mesmo amigos?

Será que as novas amizades são falsas? Ou são pessoas genuinamente interessadas em serem verdadeiras? Será que nas minhas atuais mudanças gerei aberturas? Com certeza me exponho bem mais agora...

E não se preocupem os amigos que estiverem lendo, pois sei muito bem que são próximos demais e não dúvido de vocês. Minhas considerações são apenas sobre algumas pessoas da academia, supermercado, lojas vizinhas... pessoas do dia-a-dia que não tenho vínculos reais.

Aos meus antigos amigos, continuo pedindo a mesma força apenas. Alguns são violentos, outros filosóficos, outros bebem comigo, outros deixam um scrap verdadeiro no Orkut, outros temos apenas saudades... mas a todos, convido pra virem comigo nos meus novos caminhos. O dia assusta, eu sei, mas é o medo da liberdade que você sente, um medo da felicidade...

Minhas costas doem de repente, eu queria escrever algo sobre as meninas que saí mas decido que é íntimo (desculpa). Meu olho arde de sono quando eu já devia estar na cama a MUITO tempo. Sinto a barriga pedir algo (só precisa de um gole de água). Costas cansadas (é excesso de exercício e a insistência em não dormir direito) se arqueando demais. O nariz aponta um resfriado... talvez.

Eu percebo que perdi o ponto. Vou revisar o texto e vou dormir.