09/10/2009

Ansioso pela calma

Eu queria poder explicar a minha ansiedade de chegar no final de semana logo e ir surfar.

Não me importa mais nem se vai ter onda desde que eu fique lá com a prancha. Saio do mar novo! Demora um tempo pra ligar de novo coisas como dinheiro, obrigações no trabalho, trânsito, horário, etc. Não que meu cérebro "frite", é uma questão de que esses valores são substituídos por ter responsabilidade como minha remada, a postura do meu corpo sobre a prancha, o foco da mente no mar...

E durante a semana, aquela ansiedade. Acordo mexendo o pé como se estivesse "droppando" ou até remando. Várias coisas se comparam a diferentes marés e minhas remadas... Ah, o homem e o mar. Não é a toa que tem tantos livros filosóficos sobre isso, não é mesmo.

Mas o que eu queria era guardar esse texto abaixo, que ilustra os momentos finais da minha ansiedade, o caminho em si serra abaixo...

"Vai, meu irmão! Acelera essa porra. Acelera cara, quero chegar lá com a maré enchendo.

1976, mais uma vez vai o Opalão despencando pela serra do Mar, em busca do grande oceano, da água salgada, do prazer do surf.

Um som arretado, pranchas na capota, THC.

Chegamos à Baixada Santista. Longa planície com cheiro do mangue e um indigesto posto de polícia rodoviária, que normalmente manda parar os carros com prancha na capota. Mas de alguma maneira hoje não nos pararam, nos ignoraram.

Eles não gostam da gente.

Nós não gostamos deles.

Atravessar a cidade de Santos sempre é prazeroso. As construções antigas, as ruas arborizadas, palmeiras imperiais e a turma arrastando a sandália com calma e soberania.

Na ponta da praia uma pequena fila da balsa.

Muito legal descer do carro, se esticar e debruçar no guarda-corpo sobre o canal de Santos, ver os barcos ancorados, coloridos, com cheiro de maresia. Os cardumes de peixinhos alinhados, lindo. Relaxo profundamente e viajo na furta-cor de uma mancha de óleo, que boiando muda de maneira aleatória da cor azul para o roxo, verde, vermelho, psicodélico.

Já estamos na balsa, a 5 min do Guarujá. O vento na cara é bom. Vejo as águas invadindo o mangue, confirmando a maré enchente.

Mais alguns quilômetros e chegaremos ao nosso destino, Sítio São Pedro, na praia Branca.

Paramos na generosa sombra de uma enorme amendoeira. Começa um momento mágico. Despir roupa, pensamentos e atitudes impregnados de agitação e da competição da cidade, da estrada, da facu, da família, do mundo, e trocar tudo por uma bermuda, uma sensualíssima prancha e uma parafina cheirosa. Cheiro de alegria, cheiro de liberdade.

Já falei tantas vezes e repetirei tantas outras: Surf e sexo são as melhores coisas que conheci nesta minha humilde existência."

- Carlos Motta, Surfista à 40 anos e Arquiteto premiado internacionalmente, Revista Trip 181.