04/11/2010

Tanto tempo...

Quase um ano sem postar...

Nesse um ano, muita coisa aconteceu que me fez parar de escrever.

Saí de casa, e a barra não foi pesada, mas morar por conta própria, mesmo que dividindo aluguel, dá muito trampo. Bom trampo, mas te consome.

Depois, comecei a namorar (bom, ambos aconteceram literalmente no mesmo dia). Passei a ter alguém pra contar tudo que me passava na cabeça, e embora o blog sofreu, eu fui aos céus.

Minha vida de surf continua, e ela se tornou mais trabalhosa. Tenho qe monitorar os ventos, ler sobre pranchas, parafina e quilhas, me esforçar mais na academia, e finalmente, viajar até as praias!

Mas principalmente, algumas dores muito fortes.

Sempre me foi fácil trocar de emprego, mas a última troca foi conturbada: motivos esdrúxulos de chefes querendo descontar suas frustrações pessoais em mim. Fazer o que? Profissionalmente foi para melhor, pois voltei às grandes empresas... mas com certeza sinto falta de um grande círculo de amigos que trabalhavam juntos.

Mas tenho fé em mantê-los, e fé em criar novos.

E também a maior perda que tive na vida: meu pai. De repente, jovem, num domingo, sem aviso, assim...

E assim, com esses 3 pontinhos, parei de escrever de vez.

O impulso de escrever algo sobre ele sempre esteve presente, claro, mas vieram grandes problemas financeiros. Com eles, perigos ainda bem presentes e nada resolvidos para minha mãe, irmãos, e até para mim e meu futuro com minha namorada.

Com certeza, minha inspiração escapou...

Sem tempo, sem certezas pro futuro, em novos ambientes ainda frágeis demais para se sentir alguma segurança, minha inspiração sempre antes voltada para a alegria e descontração hoje seria apenas mórbida. Na melhor das hipóteses seria esperançosa, daquelas esperanças de que literalmente está todo fodido mas acredita que vai melhorar.

Não gosto dessa inspiração, e por isso não escrevo.

Abri essa exceção como justificativa nesse blog, pois não escrevo para leitores em geral, escrevo para mim. Meu eu futuro lê e se lembra de como se sentiu no dia que escreveu... algo como olhar fotos antigas com amigos que não lembramos mais.

E assim, está tirada mais uma foto para mim mesmo com essa carta para o futuro.

Daniel Futuro: coragem cara. Você sabe que é invencível. Continue salvando o mundo e sairá dessa realizado. Quem tem a bondade, talento, amor e perseverança nos atos como você tem, não pode falhar.

09/10/2009

Ansioso pela calma

Eu queria poder explicar a minha ansiedade de chegar no final de semana logo e ir surfar.

Não me importa mais nem se vai ter onda desde que eu fique lá com a prancha. Saio do mar novo! Demora um tempo pra ligar de novo coisas como dinheiro, obrigações no trabalho, trânsito, horário, etc. Não que meu cérebro "frite", é uma questão de que esses valores são substituídos por ter responsabilidade como minha remada, a postura do meu corpo sobre a prancha, o foco da mente no mar...

E durante a semana, aquela ansiedade. Acordo mexendo o pé como se estivesse "droppando" ou até remando. Várias coisas se comparam a diferentes marés e minhas remadas... Ah, o homem e o mar. Não é a toa que tem tantos livros filosóficos sobre isso, não é mesmo.

Mas o que eu queria era guardar esse texto abaixo, que ilustra os momentos finais da minha ansiedade, o caminho em si serra abaixo...

"Vai, meu irmão! Acelera essa porra. Acelera cara, quero chegar lá com a maré enchendo.

1976, mais uma vez vai o Opalão despencando pela serra do Mar, em busca do grande oceano, da água salgada, do prazer do surf.

Um som arretado, pranchas na capota, THC.

Chegamos à Baixada Santista. Longa planície com cheiro do mangue e um indigesto posto de polícia rodoviária, que normalmente manda parar os carros com prancha na capota. Mas de alguma maneira hoje não nos pararam, nos ignoraram.

Eles não gostam da gente.

Nós não gostamos deles.

Atravessar a cidade de Santos sempre é prazeroso. As construções antigas, as ruas arborizadas, palmeiras imperiais e a turma arrastando a sandália com calma e soberania.

Na ponta da praia uma pequena fila da balsa.

Muito legal descer do carro, se esticar e debruçar no guarda-corpo sobre o canal de Santos, ver os barcos ancorados, coloridos, com cheiro de maresia. Os cardumes de peixinhos alinhados, lindo. Relaxo profundamente e viajo na furta-cor de uma mancha de óleo, que boiando muda de maneira aleatória da cor azul para o roxo, verde, vermelho, psicodélico.

Já estamos na balsa, a 5 min do Guarujá. O vento na cara é bom. Vejo as águas invadindo o mangue, confirmando a maré enchente.

Mais alguns quilômetros e chegaremos ao nosso destino, Sítio São Pedro, na praia Branca.

Paramos na generosa sombra de uma enorme amendoeira. Começa um momento mágico. Despir roupa, pensamentos e atitudes impregnados de agitação e da competição da cidade, da estrada, da facu, da família, do mundo, e trocar tudo por uma bermuda, uma sensualíssima prancha e uma parafina cheirosa. Cheiro de alegria, cheiro de liberdade.

Já falei tantas vezes e repetirei tantas outras: Surf e sexo são as melhores coisas que conheci nesta minha humilde existência."

- Carlos Motta, Surfista à 40 anos e Arquiteto premiado internacionalmente, Revista Trip 181.